O VERÃO ELEGE MUSAS E VILÕES. ÁS VEZES
injustamente. Na semana passada, no Rio de Janeiro, os barraqueiros receberam
uma ordem: será ilegal vender coco na areia das praias. Quase 60% do lixo
recolhido nas praias são cocos-verdes – 20 mil cocos por dia. Cada um pesa em
média 1 quilo.
O “Comitê Gestor da Orla” informou que o coco é o
maior detrito, o maior poluidor das praias. Coitado do coco. O maior poluidor
das praias é o brasileiro, um povo sem a menor educação ambiental.
Todos se indignaram com a prefeitura, que estaria
violando a tradição carioca de beber água geladinha de coco à beira-mar. A
tradição, tanto nas praias quanto nos parques, em todos os Estados, é espalhar
imundície por onde se anda. No Rio, a mesma multidão que quer se refrescar com
coco junto ao mar deixa nas areias, aos domingos, até 180 toneladas de lixo.
É tudo o que se pode imaginar. Garrafas, latas,
saquinhos plásticos, palito de churrasco, fraldas descartáveis, luvas ( para
passar água oxigenada nos pelos do corpo) e muito mais.
A casca do coco leva dez anos para se decompor na
natureza. Os sacos e copos sw plástico, de 200 a 450 anos.
Como é árduo o trabalho dos garis para tornar
invisível a sujeirada que todos – madames, celebridades, atletas, favelados,
jovens e velhos – largam para trás! Quem caminha muito cedo na praia, antes da
chegada dos garis, vê a areia coalhada de detritos. É vergonhoso.
A proibição da venda de cocos na areia (prestem
atenção, é só na areia, porque os quiosques no calçadão poderão vender) foi
destaque em colunas reportagens e sites.
Pouco se falou sobre o resto do choque de ordem
praieiro. Camarão no espeto e queijo coalho na brasa não poderão ser vendidos
na areia.
Botijão de gás, churrasqueira, aparelhos elétricos
ou de som e recipientes de vidro estão entre os barrados da praia. Só o coco
despertou protestos.
Acho inacreditável alguém se atrever a dizer que
deixa lixo na praia porque não há contêineres suficientes na areia ou no
calçadão. Em primeiro lugar, há. É só andar alguns metros. Um coco é pesado
para levar até o calçadão¿ Dá preguiça ¿ Imaginem 20 mil cocos diariamente.
Junto com os cocos, as famílias – mesmo as educadas em colégio de elite – também
abandonam os canudos de plásticos. Por que, em países civilizados, os usuários
levam saquinhos para as praias (especialmente as desertas, sem containeres) ¿
Para tomar conta de seu próprio lixo.
Eu gostei da medida da prefeitura. Por ter
despertado um debate. Não por achar que vai mudar alguma coisa. Por si só, é
uma medida inócua, que apenas reduz o trabalho braçal dos garis. Ás vezes penso
numa medida mais radical. Parar de limpar por uns dois dias a praia. Só para a
gente se olhar no espelho turvo. Claro que vão culpar a prefeitura: “Pô,
ninguém limpa isso”¿ , Alguém uma hora vai dizer: “E quem sujou isso¿”. Fomos
nós.
Sem educação ambiental no currículo das escolas
desde o primeiro ano, nossas crianças repetirão os vícios dos pais. Com
campanhas maciças do governo pela televisão, quem sabe nossos filhos nos
repreenderão quando cometermos crimes contra o meio ambiente ¿
Não sei se nossos sujismundos são os mesmos
cidadãos preocupados com o aquecimento global, com a poluição, com os bueiros
entupidos que provocam enchentes. Não sei se são os mesmos cidadãos preocupados
com o fim das geleiras, com o desmatamento da amazônia.
Dizem que o brasileiro adora praia. Eu acho que
detesta. Ninguém trata tão mal algo que adora
Aqui em Rio das Ostras não é diferente. As pessoas
sujam muito as praias, não tomando conta de SEU LIXO. Falta muita
conscientização ambiental. Um dia quem sabe, reverteremos esse quadro.
Ruth de Aquino \ Maia – AMARFLOR.
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